terça-feira

Sexo, Drogas e Atualize o Seu Blog - Manual de Sobrevivência do Artista na Web


O mundo mudou e muita gente ainda não percebeu. No meio musical, as coisas realmente viraram de cabeça para baixo nesses quinze anos de Internet, o que desconcertou e destronou as gravadoras e editoras - que até então davam as cartas do jogo - e deixou desorientados muitos artistas que ainda dependem da venda dos seus CDs. 


Agora, suas músicas circulam livremente na web. As gravadoras muitas vezes não estão mais presentes ou cumprem satisfatoriamente o papel de intermediárias entre o artista e o público. O próprio artista precisa gerenciar sua carreira, buscar espaço num mundo com excesso de informação sobre tudo, criar justificativas para que seus fãs paguem por algo que normalmente podem acessar de graça... As coisas aparentemente ficaram difíceis para o artista. Ou não. Ficaram diferentes! 


No Brasil, Leoni (ex-Kid Abelha e Heróis da Resistência) foi um dos primeiros a acordar para a nova cena, procurando entendê-la, ao invés de simplesmente combatê-la. Testou alternativas como blog, site com distribuição gratuita de versões inéditas, perfis ativos em redes sociais, concursos permitindo a colaboração dos seus seguidores até mesmo na composição de novas músicas, etc. Tudo visando a transformar suas músicas em "serviço" de alto valor agregado, e não mais um mero "produto" como antigamente.


Mais do que isso, Leoni tem mostrado serenidade ímpar no debate de temas que em geral despertam posicionamentos apaixonados, repletos de ira e de radicalismos, como é a questão dos direitos autorais no mundo digital: os que entendem que "não pode nada" contra os que querem "liberar a geral"; os defensores da propriedade intelectual contra os seguidores da cultura livre... Quem está certo? Provavelmente nenhum dos lados, isoladamente. E Leoni tem mostrado isso, com posicionamentos racionais e realistas em assuntos tão caros para compositores e intérpretes em geral. 


O resultado disso tudo foi o e-book Manual de Sobrevivência no Mundo Digital, disponível gratuitamente na web, e recentemente lançado como livro pela Editora Prestígio. Comprei um exemplar na semana passada (é, comprei mesmo, pois entendi que justificava) e valeu a pena.


Para quem entrou no mercado a partir do ano 2000, talvez a obra não traga nenhuma grande novidade. Do ponto de vista jurídico ou tecnológico também não, como, aliás, nem era o seu propósito.


Porém, é um retrato muito interessante dessa revolução sob o ponto de vista de um artista nacional, que decidiu encarar todas essas mudanças com inteligência, mente aberta e racionalidade. 


Mais do que isso: é também um verdadeiro manual de sobrevivência - como o nome corretamente indica - para a enorme massa de bandas, cantores e compositores das décadas anteriores, que ainda estão como verdadeiras baratas tontas frente a esse novo cenário, totalmente desamparados sem a "proteção" das gravadoras e sem saber ao certo o que é realmente importante para vencer nesse século.


Abaixo alguns dos mais interessantes insights do Leoni:

"Em Julho de 2008, comecei uma nova forma de distribuição de músicas. A cada mês, dava uma canção inédita, gravada em estúdio com a banda. Não tinha nenhuma idéia amarrada com o que faria com isso."

“Para começar esse relacionamento, especialmente se você é um novo artista e ainda não conseguiu chamar a atenção de muita gente, ofereça algo que interesse muito mais ao público do que a si mesmo. Por isso, em primeiro lugar, seu site deve possibilitar streaming das suas canções inteiras – não só trinta segundos – e, além disso, você tem que dar música. Não precisa ser o álbum todo, mas algumas canções, umas três ou quatro pelo menos. Afinal, quer proteger ou divulgar seu trabalho?” 

"Afinal, quem vai pagar por algo que não conhece e que, caso deseje, pode ter de graça na internet? Não estou falando de ganhar dinheiro vendendo música, seja no formato de single ou de álbum, estou falando de construir uma carreira e uma base de fãs que permita a você viver de shows."

“... não acho que a música deva ser gratuita na internet. Mas na prática, ela é."

"Nesses tempos em que toda a informação e muito do entretenimento é digitalizável, todo o cuidado é inútil.”


"O principal é viciar uma quantidade razoável de pessoas no que você tem de mais precioso: suas melhores canções.”

“... a maioria das pessoas só retorna a um  site se for lembrada a fazê-lo! Mande notícias regularmente e sempre ofereça algum presente ou alguma atração que interesse! No meu site tenho dado canções inéditas, canções antigas, versões alternativas, um e-book, transmissões ao vivo de gravações, além de realizar concurso e incentivar a produção de conteúdo pelos fãs.”

"Hoje as únicas formas de se conseguir atingir algum público com sucesso são a internet e os shows. Sendo que esse segundo caminho é aquele que vai realmente conquistar fãs. Portanto, banda que não toca ao vivo não vai conseguir criar uma carreira.”

“... a seqüência deveria ser: composição / ensaio e mais ensaio / show / gravação / internet. Tudo isso repetido muitas vezes.”

“... vivemos tempos nos quais tudo é possível, as regras ainda estão sendo inventadas. Não é necessário lançar um CD para se criar um novo espetáculo. Consegui mais shows por conta da novidade e minha carreira ganhou um impulso surpreendente para quem não lançava nada no mercado convencional desde de setembro de 2006.”

“Minha posição em relação à música gratuita 
1.   Não faço parte de nenhuma das duas torcidas mais comuns. Não acho que tudo deva ser gratuito e acabou, nem posso concordar que se tente punir quem baixa música de graça.
2.   Não acho que gratuidade seja uma meta. Ela é um mal irreversível para os artistas em atividade, contra o qual é tão inútil, como não concordar com a lei da gravidade.
3.   A música tem custo e valor, ela não é feita de graça. A música grátis tem que fazer parte de uma estratégia para divulgar e vender – seja música, ingressos de shows ou merchandising."

"Faço parte do Música Para Baixar porque acredito não haver meios de controlar o compartilhamento de música pela internet. E, em diversos casos, o controle seria péssimo para a cultura. Vejam os casos de discos que estão fora de catálogo. O desinteresse de uma gravadora em lançar o repertório de determinado artista colocava-o no ostracismo irreversível. Que direito têm as gravadoras de impedirem a sociedade de ter acesso a um bem cultural? Quantas jóias ficavam trancadas nos cofres dos detentores de direitos autorais e agora circulam livremente pela rede, beneficiando artistas e público? Processar os fãs , ou impedir que tenham acesso ao que desejam, nunca me pareceu uma estratégia muito inteligente para se conquistar mais fãs."